A garota se
desenhava à minha frente na fila do supermercado. Confesso que, como admirador
das artes plásticas, principalmente esculturas, para mim aquela tinha
significativa importância.
E como fazem
para realçar o charme, rodopiou os lisos e laminados cabelos que por pouco não
me feriram o rosto naquela inocente e esvoaçante investida sobre mim.
Inconsciente, obviamente, já que, desatenta, a garota sequer notara a minha
presença as suas costas, quiçá a admiração que eu exercia sobre ela.
Também não fazia
exigências maiores, nem menores. Limitava-me em torcer mentalmente para que ela
se virasse e eu pudesse ver o seu rosto e assim poder compará-lo com a
geometria dos outros traços impiedosa e milimetricamente por mim observados e
diagnosticados.
Claro que para
isso eu poderia recorrer a outros artifícios como a simulação de um tropeço em
nada, ou um leve esbarro em seus saltos e, assim, ela se voltasse para mim e
ouvisse minhas ensaiadas desculpas.
Não. Eu queria
que tudo acontecesse da maneira mais natural possível e, por isso, ia
mentalmente repetindo “olhe, olhe, olhe para trás...” como uma espécie de mantra.
E eis que, de repente, imprevisto pelos deuses, um pum, um sonoro pum se fez
ouvir.
Ressabiada ela,
imediatamente, olhou não apenas para trás como para todos os lados, e, então,
eu pude finalizar a minha tese: ela realmente era individual e completamente um
show. Letra e música em suave harmonia. Aquele pum para mim soou como um belo acorde numa bela orquestra e eu ganhei
o meu dia.
Esse Carlito arrebenta... kkkk
ResponderExcluirObrigado Carlita
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