quarta-feira, 29 de agosto de 2012




A garota das havaianas de correias brancas

Carlos Alberto de Lima

Ontem, eu e uma amiga fomos a uma sorveteria para reaver momentos e absorver flocos e massas. Gente entrando, gente saindo, crianças se lambuzando, adultos achando graça, casais mais jovens trocando intimidades, casais mais comprometidos trocando fraudas e nós dois ali, naquela desconfortável mesinha de sorveteria.
Apesar do desconforto oferecido pelas mesinhas, atendimento e sabores fazem daquele local o melhor e mais agradável dos ambientes.
Como cronista, costumo cumprir à risca o meu lado observador, enquanto a minha amiga que não é cronista, também cumpre à risca a função de ficar observando a maneira com que eu observo cada pessoa e cada detalhe a ser observado.
Meu objetivo com a observação é o apanhado de dados de que necessito para descrever cada lance em suas minúcias, já o objetivo da minha amiga é pegar os detalhes minuciosos dessa observação, na tentativa de me comprometer.
Estávamos nesse paralelo, entre conversa e observações, quando adentrou ao recinto uma jovem em seus aparentes dezessete para dezoito anos, dentro de um receptivo short jeans e os pés (coisa mais linda numa mulher) emoldurados por um belíssimo par de havaianas de correias brancas.
Simplicidade e elegância adentraram juntas com a jovem de olhos verdes, lábios carnudos, andar de passarela e cabelos de um tom louro médio, encaracolados e curtos, em contraste perfeito com aquele corpo escultural e com a pele de cor morena acentuada por horas e horas de piscina.
Mesmo sob a desaprovação de minha amiga, não pude fugir da observação. A garota, além de bonita, possuía formas talentosas. Sentou-se à mesa, acendeu um cigarro e, com o dedo indicador, afastou os poucos fios de cabelo que lhe cobriam as orelhas e, com a chegada do atendente, pediu com firmeza: “você tem souvete de quais sabor”. Olhei para minha amiga e, juntos, rimos.

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